sábado, 23 de outubro de 2010

O OLHAR VESGO DE VÉNUS

OLHAR VESGO
Vénus de Milo


Para Descartes, aquilo que os Antigos chamavam de olhar de Vénus exerceu sempre uma espécie de atracção até ao momento em que, por anamnese, concluiu que isso se devia a um primeiro amor por uma rapariga que sofria desse defeito.

Mas o característico empreendimento cartesiano ( e de psicanálise “avant la lettre”) de elucidar a origem das nossas paixões e de a ancorar no corpo não explica a crença surpreendente no estrabismo de Vénus, como se lê no “Satyricon”.
Sugiro que aquele defeito de focagem desvaloriza a relação, hipertrofiando o imaginário, em que o outro neutralizado no olhar, sede visível da consciência, se conforma passivamente ao objecto desejado. 

Claro que poderíamos, talvez, incluir esta hipótese nas perversões da decadência romana. 

Mas, afinal, é Lacan que diz que não existe relação sexual.

1 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.