Vénus de Milo |
Para Descartes, aquilo que os Antigos chamavam de olhar de Vénus exerceu sempre uma espécie de atracção até ao momento em que, por anamnese, concluiu que isso se devia a um primeiro amor por uma rapariga que sofria desse defeito.
Mas o característico empreendimento cartesiano ( e de psicanálise “avant la lettre”) de elucidar a origem das nossas paixões e de a ancorar no corpo não explica a crença surpreendente no estrabismo de Vénus, como se lê no “Satyricon”.
Sugiro que aquele defeito de focagem desvaloriza a relação, hipertrofiando o imaginário, em que o outro neutralizado no olhar, sede visível da consciência, se conforma passivamente ao objecto desejado.
Claro que poderíamos, talvez, incluir esta hipótese nas perversões da decadência romana.
Mas, afinal, é Lacan que diz que não existe relação sexual.
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