"Spiritual Voices" (1995-Aleksandr Sokurov)
Junto à fronteira com o Afeganistão, um grupo de soldados russos entrega-se à rotina do seu posto de vigia, no grande silêncio das montanhas.
Em voz off, o diário de guerra, nostálgico e indolente, comenta as idas e vindas no espaço confinado daqueles homens. A câmara parece divagar, como um insecto na paisagem árida, poisando aqui e ali, descansadamente: um soldado estirado ao sol, um outro que dorme, um pássaro no arame sobre os camuflados que param um momento por baixo, e até o olho de um cão que reflecte a magra festa da passagem de ano.
Claro que o tempo não é o tempo real. A lentidão, a quase ausência de montagem, quando se foi "educado" pelo cinema americano, parece excessiva. Mas é como o romance-catedral com um imenso átrio que afasta os pouco corajosos.
É esse tempo vagaroso que nos permite um certo modo de estar naquele lugar e de conhecer aqueles jovem lacónicos no seu desterro. Os silêncios fazem falar a alma. Dou comigo a pensar que os russos são naturalmente tristes. Não se passa nada e ninguém quer falar. Ou é a montanha que é a grande voz. Há uma frase do diário que sugere isso: - quanto mais se sobe, menos valor tem a vida e mais se ama a montanha.
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