"O sono de Endymion" (Girodet)
"Se outrora me tinha exaltado acreditando ver algum mistério no olhar de Albertine, agora só era feliz nos momentos em que desses olhos, dessa face mesma reflectindo como os olhos, tão depressa doce como inabordável, eu conseguia expulsar todo o mistério."
"La Prisonnière" (Marcel Proust)
Entretanto ocorrera o cataclismo gomorreano.
Marcel não podia já acreditar que o mistério fosse rico de promessas que o fizessem feliz a ele. Precisava de estar seguro de que conhecia tudo (o que pensava, os seus projectos) da sua amiga. Como isso é impossível de qualquer ser humano, a sua maior ventura consistia em vê-la adormecida; parecia-lhe então que a possuía mais completamente, "como uma coisa inconsciente e sem resistência da muda natureza". Cada movimento desse corpo entregue ao sono fazia nascer uma nova mulher e até "raças, atavismos, vícios repousavam no seu rosto."
Mas o que tinha tudo isto a ver com Albertine?
Nesta análise admirável é o fetichismo do desejo que se revela, a sua absoluta impessoalidade e por que é que o real é um lugar a que se tem sempre de regressar.
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