terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

INQUISIÇÃO



Qual é a culpa do Padre Flynn (Philip Seymour Hoffman), no filme "Doubt"(2008-John Patrick Shanley), que o leva a submeter-se à inquisição da reitora (Meryl Streep)?

No duelo de palavras no seu escritório, ela admite ter alguns pecados graves na consciência. Todos confessados e perdoados. Mas não considera que isso funcione no caso do padre. Ele há-de sempre voltar ao mesmo, porque está na sua natureza.

Não são os actos que estão em causa, mas o pensamento. E este, para o inquisidor, não pode deixar de ocupar o espírito, quando as circunstâncias o proporcionarem. E é isto que condena o padre aos seus próprios olhos. Ele sabe que esse pecado, pelo menos, não o poderá evitar, porque se alimenta do que o faz viver, tão íntimo como o seu corpo, tão natural como ceder ao seu próprio peso.

A teologia deu-lhe um nome. Diabo é o que se atravessa (do Grego Διάβολος , lançar através de ), mas que não vem doutro lado senão de nós mesmos.

Nada parece mais anacrónico nos tempos que correm do que esta problemática. É verdade que a história (que tem um final quase ridículo, com a inquisidora por sua vez atacada pelo Tentador: - e se Flynn estivesse inocente?) se passa nos ingénuos anos sessenta.

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