quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A GENEROSIDADE DE ANDREIA


"Caridade" (Giotto)


"Isso não impedia que Andreia pudesse ser melhor em relação a mim, que me amasse mais - e tive muitas vezes a prova disso - do que pessoas mais amáveis. Mas o menor ar de felicidade que se mostrasse, se não fosse causada por ela, produzia em si uma impressão nervosa, desagradável como o ruído duma porta que se fecha com demasiada força."

"La Prisonnière" (Marcel Proust)


Sempre me interessou esta passagem. O género de pessoa como a jovem amiga de Marcel aqui retratada é mais comum do que parece. E não se pode, cabalmente, chamar de egoísta a este comportamento. Andreia gostava realmente de fazer felizes os outros e não havia nada que mais fizesse, a ela própria, irradiar felicidade. Porém, se estivesse em nós mesmos a causa de nos sentirmos felizes, por termos feito determinada leitura ou termos ouvido um certo trecho de música, por exemplo, ou se fosse uma terceira pessoa a causa disso, o rosto de Andreia logo se fechava, como se fosse motivo de censura a bondade alheia.

De certa maneira, ela vivia para os outros, mas com uma generosidade interessada, como um santo que fizesse o bem para alcançar o Céu e, no fundo, desconhecendo o significado da palavra caridade.

É, portanto, um egoísmo paradoxal. Andreia é para si o centro do mundo, sem deixar de ser generosa, mas a sua generosidade precisava dos outros à sua volta, como satélites.

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