Robert Musil (1880/1942)
"Um pouco como um ensaio, na sucessão dos seus parágrafos, considera numerosos aspectos de um objecto sem querer apreendê-lo no seu conjunto (porque um objecto apreendido no seu conjunto perde de imediato a sua extensão e transforma-se em conceito), ele pensava poder considerar e tratar o mundo, tal como a sua própria vida, com maior justeza do que de outra maneira. O valor duma acção ou duma qualidade, a sua essência e a sua natureza mesmas pareciam-lhe depender das circunstâncias que as rodeavam, dos fins que elas serviam, numa palavra, do conjunto variável de que faziam parte."
"Der Mann ohne Eigenschafen" (Robert Musil)
Ulrich, a personagem de Musil, chegou assim à conclusão de que "todos os acontecimentos morais tinham lugar no interior de um campo de forças cuja constelação os carregava de sentido e continha o bem e o mal como um átomo contém as suas possibilidades de combinações químicas."
Se os nossos actos só podem receber um sentido final, a partir da consideração do "campo de forças" de que fazem parte, isso equivale a uma espécie de inocência da acção, porque nunca teremos o conjunto debaixo do nosso olhar.
A moral no "sentido ordinário", pelo contrário, diz-nos quando fazemos o bem ou o mal, independentemente de conhecermos ou não o "conjunto".
É pois um sentimento que interpreta a complexidade como se ela fosse um conceito.
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