domingo, 15 de fevereiro de 2009

DE ZANGÕES E DE DEMÓNIOS


Socrates and his Daemon by Eugène Delacroix
Ceilings of the Library, French National Assembly, Paris.


"É a este nível que se torna explicável que, como foi muitas vezes notado, a própria consciência moral deixasse de funcionar sob as condições de uma organização política totalitária, e que isso se verificasse em boa medida sem que interviesse o medo do castigo. Nenhum homem que não possa tornar efectivo o diálogo consigo próprio, quer dizer nenhum homem privado da solidão que todas as formas de pensamento requerem, poderia conservar a integridade da sua consciência moral."

"A Promessa da Política" (Hannah Arendt)


Se a consciência moral for aquela espécie de demónio de que falava Sócrates - ele próprio se definia como um zangão espicaçando o espírito dos outros, a tendência para fugir-lhe deve ser a coisa mais natural do mundo. Daí os atractivos do re-ligare, sob qualquer forma que seja, da comunhão ou da simples distracção do espírito em qualquer corrente de produção de conteúdos.

A organização totalitária, no limite, podia ser completamente interiorizada, tornando quase simbólicas as formas de coacção. Podemos encontrar na formação militar espartana o modelo dessa sociedade.

O espírito crítico nasceu com o primeiro fora do passo. Com a separação acusadora do colectivo.

0 comentários: