segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O "JUÍZO" DOS SÉCULOS


Himmler speaks to the SS troops


"Só aqueles que, por uma razão ou por outra, deixam de ser guiados pelas motivações comuns do interesse pessoal e do bom senso, podem entregar-se ao fanatismo de convicções pseudocientíficas (as leis da vida ou da natureza), que contrariam manifestamente qualquer objectivo prático imediato (ganhar a guerra ou explorar o trabalho).'Os homens normais não sabem que tudo é possível', disse um dos sobreviventes de Buchenwald."

"As técnicas da Ciência Social e o Estudo dos Campos de Concentração") (Hannah Arendt)


O fanatismo de um Himmler, cuja especialidade era "raciocinar em termos de séculos", convertendo os sacrifícios mais pesados da guerra no "Império Germânico Mundial" e remetendo a compreensão e aceitação das atrocidades do presente para "séculos mais tarde", está longe de ser destituído de sentido e de uma grandiosidade que Simone Weil de bom grado classificaria de romana. No fundo, é sempre o velho princípio de que os fins justificam os meios. Se tivermos em conta que no pensamento de Himmler estava implícita a completa destruição da crítica e de qualquer tipo de oposição, é natural que, "séculos mais tarde", nem houvesse crimes nem atrocidades para compreender à luz da estratégia imperial.

O que é flagrantemente verdadeiro é que todas as capacidades da inteligência e da razão podem ser mobilizadas num desígnio que parece nada ter de pessoal, de "interessado" ou de utilitário, com as consequências devastadoras que se conhecem e que a única esperança da humanidade reside em se saber evitar a completa massificação do "homem normal", para que "nem tudo seja possível".

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