"A Troca" (Clint Eastwood)
"Changeling" (2008-Clint Eastwood). Nesta história impressionante inspirada em factos realmente ocorridos, mais uma vez ressalta a violência característica da sociedade americana, tal como o cinema no-la apresenta. É provável que um cinema de acção privilegie e exalte esse aspecto no que, visto sob outro ângulo, poderia ser uma sociedade saudável.
Mas o filme é também a desmistificação da ideia ingénua de que a democracia é um ponto de chegada e uma conquista irreversível.
A inacreditável corrupção da polícia e o abuso do internamento psiquiátrico para afastar testemunhas incómodas, que vão muito para além do que vimos no filme de Forman "Voando sobre o ninho de cucos", lembra o tratamento dado à dissidência na ex-URSS. Quase a mesma impotência do indivíduo perante o Estado, a mesma arbitrariedade do poder.
A grande diferença está em que era possível contrapor alguma coisa a esse poder, desde alguma imprensa à acção cívica de alguns homens de boa vontade que conseguiram erguer um movimento de opinião suficientemente forte para reformar a polícia e a sua ala psiquiátrica.
Mas é fácil de ver como seria possível, nas condições formais da democracia, por demissão da consciência cívica, que as coisas tivessem corrido muito pior e que nenhuma justiça fosse feita.
A democracia, contudo, não teria, ainda assim, esgotado as suas potencialidades, visto que, faltando os cidadãos não faltaria a contradição de interesses e uma espécie de justiça natural que mudaria os dados do problema. Apenas numa sociedade burocrática deixaria de haver esperança.
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