domingo, 8 de fevereiro de 2009

O BRAÇO DA ALAVANCA


Aquiles e Heitor


"Um uso moderado da força, o único que permitiria escapar à engrenagem, exigiria uma virtude mais do que humana, tão rara quanto uma constante dignidade na fraqueza. De resto, a moderação também não é sem perigo; porque o prestígio, que constitui a força em mais de três quartos, é feito antes de tudo da soberba indiferença do forte pelos fracos, indiferença tão contagiosa que ela se comunica àqueles que são o seu objecto. Mas normalmente não é um pensamento político que aconselha o excesso. É a tentação do excesso que é quase irresistível."

"L'Iliade ou le poème de la force" (Simone Weil)


Simone exemplifica como essa tentação, em Homero, passa de herói para herói e dum campo para o outro. Não há quem, no momento da força, da sobrepujança, conserve o espírito de moderação, para no dia seguinte se entregar ao desespero, como Heitor diante do filho de Peleu: "Imploro-te, pela tua vida, pelos teus joelhos, pelos teus pais."

A engrenagem de que fala Simone Weil submete o indivíduo, que não é mais do que coisa entre coisas, força dentro da força. Se é o instinto do poder ou a intuição política que levam o forte a tratar o fraco como coisa, não é na psicologia que se deve procurar a explicação, mas na mecânica da situação.

O homem, deliberadamente, mas sem conhecer tudo o que está implícito nessa posição, nomeadamente, o desenvolvimento da tirania a partir dos lugares respectivos e dos movimentos necessários de cada um - como se existisse uma lógica espacial, coloca-se no braço da alavanca e a partir daí já não se pode falar mais em liberdade.

Como já Platão sabia, o tirano é o menos livre dos homens.

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