Graham Greene (1904/1991)
"Dizem que não se pode amar duas mulheres, mas o que era esta emoção senão amor? Esta faminta absorção daquilo que não iria ver mais? O cabelo grisalhando, a linha dos nervos sobre a face, o corpo engrossando prendiam-no mais do que a beleza dela alguma vez fizera. Não tinha calçado as botas contra os mosquitos e os seus chinelos estavam a pedir remendo. Não é a beleza que amamos, pensou, é o fracasso - o fracasso de não permanecer jovem para sempre, o fracasso dos nervos, o fracasso do corpo. A beleza é como o sucesso: não podemos amá-la por muito tempo."
"The Heart of the Matter" (Graham Greene)
Scoby vai tomar os comprimidos que para sempre o removerão do caminho daqueles que ama. Escondeu o suicídio sob um ataque fulminante há muito anunciado, para que o esquecessem mais depressa. Toda a gente tem de morrer.
Os seus cálculos revelaram-se acertados. Louise aceita o esquálido consolo de Wilson, o polícia que espiava o marido, e Helen, a amante, entrega-se a um Baxter alcoolizado que a assediava desde que chegara à colónia.
Dando razão ao comentário final do padre Rank, Scoby, perdendo-se como católico, na verdade desafiava o único amor que lhe importava. Oferecia a Cristo o fracasso de ter de se condenar para não fazer sofrer.
Mas se o suicídio fosse descoberto, poderia alguma dessas mulheres compreendê-lo?
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