sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O MUNDO DOS PROJÉCTEIS


A conquista do México por Hernán Cortés



"(...) os agentes da globalização nunca agem como habitantes na sua propriedade. Agem como pessoas desenfreadas que não encontram já em sítio nenhum motivos para respeitar uma ordem doméstica, seja ela qual for. Na medida em que abandonam a sua casa, os conquistadores atravessam o espaço indiferente sem terem penetrado no "caminho", no sentido budista do termo. Quando saem da casa comum que constitui o espaço interior do mundo na velha Europa, dão a impressão de serem projécteis que se desfazem de todas as suas ligações para se lançarem numa não-esfera e não-proximidade gerais, constituídas por recursos - conduzidos apenas pelos seus mandatos e apetites e mantidos em forma pelo fitness da crueldade."

"Palácio de Cristal" (Peter Sloterdijk)


Nós, que "demos novos mundos ao mundo", saberemos do que é que se está a falar? Porque a má consciência é completamente desajustada, ela é apenas o subproduto da cultura como olhar sobre o passado. Os "projécteis" vão mais longe e acertam melhor, neste caso, se a ingenuidade e a ilusão prevalecerem.

Mas o Brasil, por exemplo, nasceu da conversão desses projécteis a uma nova "ordem doméstica".

É quando a velocidade das comunicações cria um espaço instantâneo que se perde o caminho de casa. A brutalidade, se atendermos às consequências - pois os novos predadores são incapazes de matar uma mosca -, é apenas o sintoma da perda da realidade, ou melhor, duma parte do sistema ter migrado para o não-real.

O não-real é tudo o que há de mais lógico e, não tendo já o homem no seu centro, na linha duma evolução agora secular, simplesmente reclama outros órgãos e outros sentidos.

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