"Lenine, ali (na Rússia), tinha publicamente reivindicado um Estado onde não haveria nem exército, nem polícia, nem burocracia distintos da população. Uma vez no poder, ele e os seus puseram-se, através duma longa e dolorosa guerra civil, a construir a máquina burocrática, militar e policial mais pesada que alguma vez pesou sobre esse povo infeliz."
"Réflexions pour déplaire" (Simone Weil)
Isso foi assim porque não podia ser de outra maneira se Lenine queria conservar o poder. Teve de se meter na pele do fogueiro na máquina do Estado czarista, que era a única que se sabia capaz de funcionar, mas, evidentemente, com toda outra ideologia. Se aplicarmos a esta situação a fórmula de Marx de que as condições de existência ditam a forma de pensar, a ideologia, naquele caso, só podia ser o czarismo virado do avesso.
Sokurov, em "Taurus" (2001), mostra-nos como foram os últimos meses de vida do líder bolchevique. A sua completa dependência física e o meticuloso isolamento a que o sujeitou o seu sucessor são propícios a amargurar mesmo um optimismo como o seu. Tal qual o herói grego que roubou o fogo dos deuses, está preso ao seu rochedo e o abutre georgiano, ao mesmo tempo que lhe vem bicar o fígado, mostra-lhe como o futuro se há-de resolver em violência.
Para dar um ideia do carácter do homem, Sokurov oferece-nos o seguinte diálogo:
- Lenine: Se ao atravessares a floresta, visses um ramo caído em cima da estrada, que fazias? Podias fazer duas coisas: esperar que ele apodrecesse, mas isso demorava um tempo infinito, ou removê-lo do caminho.
- Staline: Há uma terceira solução.
-Lenine: Qual?
-Staline: Destroçá-lo à machadada.
Lenine parece concordar. O Terror está todo naquela resposta.
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