quinta-feira, 27 de novembro de 2008

UM ROCHEDO NO CÁUCASO



"Lenine, ali (na Rússia), tinha publicamente reivindicado um Estado onde não haveria nem exército, nem polícia, nem burocracia distintos da população. Uma vez no poder, ele e os seus puseram-se, através duma longa e dolorosa guerra civil, a construir a máquina burocrática, militar e policial mais pesada que alguma vez pesou sobre esse povo infeliz."

"Réflexions pour déplaire" (Simone Weil)


Isso foi assim porque não podia ser de outra maneira se Lenine queria conservar o poder. Teve de se meter na pele do fogueiro na máquina do Estado czarista, que era a única que se sabia capaz de funcionar, mas, evidentemente, com toda outra ideologia. Se aplicarmos a esta situação a fórmula de Marx de que as condições de existência ditam a forma de pensar, a ideologia, naquele caso, só podia ser o czarismo virado do avesso.

Sokurov, em "Taurus" (2001), mostra-nos como foram os últimos meses de vida do líder bolchevique. A sua completa dependência física e o meticuloso isolamento a que o sujeitou o seu sucessor são propícios a amargurar mesmo um optimismo como o seu. Tal qual o herói grego que roubou o fogo dos deuses, está preso ao seu rochedo e o abutre georgiano, ao mesmo tempo que lhe vem bicar o fígado, mostra-lhe como o futuro se há-de resolver em violência.

Para dar um ideia do carácter do homem, Sokurov oferece-nos o seguinte diálogo:

- Lenine: Se ao atravessares a floresta, visses um ramo caído em cima da estrada, que fazias? Podias fazer duas coisas: esperar que ele apodrecesse, mas isso demorava um tempo infinito, ou removê-lo do caminho.

- Staline: Há uma terceira solução.

-Lenine: Qual?

-Staline: Destroçá-lo à machadada.

Lenine parece concordar. O Terror está todo naquela resposta.

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