"Der Junge Törless" (Robert Musil)
"- Mas como se pode fazer isso quando se sabe com toda a certeza, com uma certeza matemática, que é impossível?
- Precisamente; age-se como se não fosse impossível, a despeito das aparências, pensando que isso acabará por dar um resultado qualquer. Afinal de contas, não é assim com os números irracionais? Uma divisão que deixa sempre um resto, uma fracção cujo valor nunca teremos, que nunca será obtido, por muito longe que levemos o cálculo? E como queres tu representar o facto que duas paralelas só se encontram no infinito? Eu creio que, se quiséssemos ser muito miudinhos, não haveria de todo matemática."
"Der junge Törless" (Robert Musil)
O diálogo entre Törless e o seu colega o barão de Beineberg sobre os números imaginários (como o da raiz quadrada de menos um) prossegue, compreendendo o primeiro que esses números "se anulam reciprocamente no decurso da operação", mas que, de qualquer modo, seria como se para passarmos duma realidade a outra tivéssemos de percorrer uma ponte que não existe.
Para o outro, essas questões não levam a lado nenhum, por estarem "para lá da nossa razão" e é preferível considerar esse bicho de sete cabeças como uma criação dos próprios matemáticos.
Nada disto impede a acção, nem a violência dos super-homens.
Beineberg será, pois, um dos carrascos de Basini, o elo mais fraco da turma. Mas em que é que Törless é melhor, ele que se interroga sobre estes mistérios, mas que não deixa de tomar parte nas sessões de tortura que decorrem nas águas-furtadas?
Aqui a "falha" da matemática equivale ao "Tudo é permitido" de Ivan Karamazov.
Mas, se Deus não existe, não deveriam ser necessários os números impossíveis. Por esta porta, o não-racional invade a citadela.
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