sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A ESPERANÇA DE NÍOBE


Apollo and Diana Attacking Niobe and her Children (Lemonnier)


"Níobe viu matar os seus dez filhos. A sua dor fez chorar as pedras. Mas, à medida que a dor se acalma, ela começa a alimentar-se. Homero insiste nisto. É uma interposição da verdade iluminada, também fundamental em Shakespeare. O orgânico é tragicómico na sua essência. O absolutamente trágico é, portanto, não penas insuportável para a sensibilidade humana: é falso para com a vida."

"Paixão Intacta" (George Steiner)


Nada em demasia. O sentido grego da proporção revela-se aqui.

Mas se isso foi dito é porque podemos viver sem ter em conta os limiares da sensibilidade e com um respeito pelo orgânico mínimo, por assim dizer.

O absolutamente trágico é então a realidade. E a esperança em abundância, mas não para nós, de que fala Kafka, citado por Steiner, a única esperança.

O risco é tanto maior quanto parece termos deixado para trás o antropocentrismo, a medida humana, por ser incompatível com a do universo.

Perante todo o excesso, só podemos olhar para trás à procura da referência perdida.

O século XX deu-nos a ver o triunfo da Máquina, que culminou no Estado dos regimes "milenários".

"A possibilidade da guerra termonuclear e biológica e a devastação do planeta significam que a eventualidade da autodestruição da humanidade e do fim do equilíbrio ecológico deixaram de ser fantasias macabras." (ibidem)

Podemos então caminhar para o absolutamente trágico, como que sedados e com todos os alarmes desligados.

Níobe levará o pão à boca, mas será insensível.

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