"O carro de bois" (Van Gogh)
"O certo é que a situação não mudara, pois o Genji tivera sempre de se contentar em vê-la na penumbra ou atrás de um kichó. No entanto, pelo pouco que pudera entrever, chegara à conclusão de que a jovem devia ser a encarnação da beleza e assim a idealizava cada vez mais."
"O Romance do Genji" (Murasaki Shikibu)
Esta penumbra, estes véus protegem a jovem de quê?
Dir-se-ia que esta cultura ( a China do período Heian) tinha chegado a um tal refinamento que se sabia tudo sobre a imaginação poética, que a beleza venerada no palácio era toda artificial e a própria luz do dia podia corrompê-la. Temiam-se, sobretudo, os sentidos, a natureza que, fora dessa delicada liturgia, se precipitavam sobre a ilusão da realidade.
Assim, ao Genji se poupa o desencantamento e, pelo contrário, a força do ideal tira dele o melhor de si mesmo.
O palácio é uma grande estufa, longe do sol e da existência comum. Cultiva-se a caligrafia, com um quase perverso amor da forma e trocam-se curtos poemas de cerimónia. E, como em Homero, a limousine dos nobres é o carro de bois.
0 comentários:
Enviar um comentário