quinta-feira, 13 de novembro de 2008

AVALIAÇÕES


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Começo por dizer que não gosto de avaliar nem de ser avaliado. Experimentei ambas as coisas na empresa e tenho de concluir que há muito de pró-forma e de ritual nessa prática. Apesar disso, o sistema impôs-se e ninguém, a não ser que queira ser considerado socialmente retrógrado, se atreverá a contestá-lo. E o que é mais sintomático ainda é que nem de si para si encontrará os argumentos necessários para contrariar uma ideia tão... imperiosa.

A ideia é, de facto, muito racional. É a crítica e a auto-crítica exercidas para obter um melhor desempenho. Embora estes conceitos sejam de origem filosófica e tenham encontrado na prática de certos partidos a sua consagração e o seu túmulo, todos percebemos como é importante essa tensão e esse espírito de emulação numa organização, qualquer que ela seja.

A experiência, contudo, dificilmente permitirá dizer-se que em algum caso a prática corresponda à sua justificação teórica. Talvez isso se deva à natureza inter-pessoal do meio em que tem de se exercer, que não se sujeita a simplificações.

Como, porém, o sistema parece funcionar, temos de encontrar alguma explicação para o paradoxo. Eu sugiro que o sistema de avaliação, mesmo se não avalia objectivamente a realidade inter-pessoal e os desempenhos diferenciados como eles são, tem um outro grande interesse para as organizações: o de legitimar a racionalidade da própria organização. Assim, a avaliação é uma "ideologia" que serve às empresas para se reverem na sua racionalidade e modernidade e para estabelecerem um perfil mais técnico e profissional.

Claro que isto vem a propósito da avaliação dos professores que agora agita as escolas e a comunicação social.

Ponho de lado a natural resistência à mudança e a sobrecarga de trabalho que, pelos vistos, será incomportável. E acredito, a julgar por alguns testemunhos, que a tarefa do ensino sairá, com isto, grandemente prejudicada, o que é já um motivo suficiente para rever o processo da avaliação.

Mas, para além disso, importa compreender o espírito da medida. Ela é a natural extensão à escola dos princípios da racionalização organizacional, há muitos anos vigente no sector económico. Pelo que digo acima, isso só pode provir da necessidade para o sistema de ensino, cuja falência tantos dizem estar à beira de se concretizar, dum novo fôlego com um reforço da sua legitimação. O Estado e o poder político vêm, assim, credenciar a organização do ensino com um certo tipo de racionalidade que já deu provas noutro lugar. Sabemos como, infelizmente, a razão pode levar longe um erro.

Por outro lado, não me parece que, não ser que a figura do professor passe a ser secundária e que o ensino "pós-moderno" o transforme num ajudante do computador, a organização, ao nível da escola ou ao nível do país deva influir na relação de pessoa a pessoa que é a educação. É claro que tem de haver organização, mas não é o essencial. E quando se privilegia este aspecto está, então, a comprometer-se a função da escola. Ou, se quiserem, a preparar-se um novo paradigma em que o professor sai pela esquerda baixa e entra a eficiência interactiva, mas impessoal.

Para contentar Gregos e Troianos, respondendo aos professores que não querem admitir que não precisam de ser avaliados e ao Governo que não prescinde de levar a eficiência empresarial às escolas, devia-se expurgar o sistema da sua loucura racionalizante que se traduz em hiper-reunite, papelada e avaliações em cadeia. Legitimar sim, mas sem desvirtuar.

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