terça-feira, 18 de novembro de 2008

O SOL



O imperador Hirohito, em Agosto de 1945, quando ordena ao seu povo a cessação de todas as operações militares é ainda o descendente da deusa do sol, Amaterasu.

Sokurov mostra-nos em "O Sol" (2005) os interiores glaucos duma renúncia. Os tiques e os passatempos, a sua paixão pela biologia, o seu culto de Darwin (talvez isso o ajude a encarar a necessidade duma evolução para o seu país , consentânea com os desígnios dos Americanos, mas também remete para um respeito totalmente exterior pelo ritual que não envolvia a maneira de pensar do homem moderno).

McArthur aparece grandalhão e mal educado diante do homenzinho que era alma desse génio militar terrível e fanático.

Mas em resposta ao general que se descarta da atrocidade das bombas sobre Hiroshima e Nagasaki com um envergonhado: "- Não dei essa ordem", Hirohito replica que também ele não mandou atacar Pearl Harbour.

Na sequência da derrota, toma a decisão histórica de renunciar à divindade da sua pessoa. A mulher, autorizada a reunir-se-lhe, arrasta-o pela mão para ver os filhos e assim sai de cena, como um homem igual aos outros, sem a maldição de Amaterasu.

E a democracia pôde, com êxito, estrear-se nesse país insular, paradoxalmente oriental, visto que a sua identidade se teve sempre de forjar contra a cultura do continente asiático.

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