Maurice Merleau-Ponty (1908/1961)
"O pintor 'oferece o seu corpo', diz Valéry. E, com efeito, não se vê como poderia um espírito pintar. É emprestando o seu corpo ao mundo que o pintor transmuta o mundo em pintura."
"O olho e o espírito" (Merleau-Ponty)
Mas a pintura automática e os programas para "pintar" no computador põem um problema.
Não está longe o dia em que a máquina analisará uma série de quadros dum autor e extrairá a fórmula do seu estilo que aplicará depois, por exemplo, a uma fotografia.
É o que fazem os falsários, como aquele que vemos em "Fake" de Orson Welles.
E não se pode dizer que na origem tenha de estar um "corpo" ou um trabalho pessoal. A certa altura, não poderemos distinguir.
O que torna a pintura, ou pelo menos uma certa ideia sobre ela, num caso tão interessante de fronteira entre a arte e a não-arte é a sua função "sibilina", à escuta dos "sons" do mundo, como uma percepção mais desenvolvida, que a imaginação quase sempre transforma, depois, em jogo de formas.
Há, porém, outra pintura que não se pode reduzir ao "corpo", nem à transformação perceptiva. Mas pergunto-me se não é antes um monstro poético ou literário perdido no mundo das cores.
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