terça-feira, 18 de novembro de 2008

AS CORES DO CORPO


Maurice Merleau-Ponty (1908/1961)


"O pintor 'oferece o seu corpo', diz Valéry. E, com efeito, não se vê como poderia um espírito pintar. É emprestando o seu corpo ao mundo que o pintor transmuta o mundo em pintura."

"O olho e o espírito" (Merleau-Ponty)


Mas a pintura automática e os programas para "pintar" no computador põem um problema.

Não está longe o dia em que a máquina analisará uma série de quadros dum autor e extrairá a fórmula do seu estilo que aplicará depois, por exemplo, a uma fotografia.

É o que fazem os falsários, como aquele que vemos em "Fake" de Orson Welles.

E não se pode dizer que na origem tenha de estar um "corpo" ou um trabalho pessoal. A certa altura, não poderemos distinguir.

O que torna a pintura, ou pelo menos uma certa ideia sobre ela, num caso tão interessante de fronteira entre a arte e a não-arte é a sua função "sibilina", à escuta dos "sons" do mundo, como uma percepção mais desenvolvida, que a imaginação quase sempre transforma, depois, em jogo de formas.

Há, porém, outra pintura que não se pode reduzir ao "corpo", nem à transformação perceptiva. Mas pergunto-me se não é antes um monstro poético ou literário perdido no mundo das cores.

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