"Vista de Nantes" (Pierre Justin Ouvrie)
"Aqueles a quem chamavam sans-culottes, unicamente por serem pobres, não tinham outra opinião além da fome. Os marinheiros não navegavam mais, os cordoeiros não fiavam, os pescadores não pescavam e as peixeiras não vendiam; estas, inconstantes e furiosas, mudaram três vezes de partido em dois anos."
"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)
Passava-se isto em Nantes, no centro da contra-revolução, em 1793. As prisões da cidade estavam cheias, de olhos postos no outro lado do canal da Mancha e nos vendeanos que aguardavam de hora em hora.
Para resolver o apinhamento das prisões, os girondinos, de vez em quando, e ao acaso, soltavam alguns que iam engrossar o campo inimigo. Goullin, um ex-plantador de S. Domingos, à frente da defesa da cidade, adoptou o método oposto: matou-os a todos.
Michelet diz que este homem tinha acabado de se recompor "duma grande doença nervosa que lhe havia deixado uma certa irritabilidade e uma exaltação febril", e acrescenta que "os homens neste estado têm poderes terríveis. Tudo lhe cedia."
Mas se o "terrível nó da Vendeia" foi cortado, não foi graças a este crime, o qual, pelo contrário, encorajou outras barbaridades prejudiciais à Revolução. A desorganização dos vendeanos, as suas lutas intestinas, as privações de todo o género e o abandono por parte dos Ingleses foram decisivos.
"Cortar o mal pela raiz" é muitas vezes uma ilusão que o dogmatismo político favorece. Não há nada de mais improvável do que identificar e isolar a raiz dum fenómeno social. O que faz com que "tudo esteja ligado" e nunca se atinja a "raiz" de nada é o passado que não está em lugar nenhum.
Mas isto desemboca na paralisia contemplativa. O homem que age nunca tem em conta as circunstâncias todas, nem se figura todas as consequências. Por isso, nunca se "corta o mal pela raiz", mas, em vez disso, dá-se um novo piparote na roda da fortuna.
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