domingo, 23 de novembro de 2008

A MONTANHA


O Fuji-san


"Eu não podia pensar nos Gregos sem ver montanhas diante de mim e, bizarramente, essas montanhas assemelhavam-se muito àquelas que eu tinha quotidianamente sob os olhos. Elas pareciam mais ou menos afastadas, segundo as condições atmosféricas; rejubilávamos quando estavam bem visíveis, falávamos delas e sobre elas cantávamos, eram objecto dum verdadeiro culto."

"Histoire d'une jeunesse" (Elias Canetti)


Que símbolo exprime melhor a altura solitária do que uma montanha? Nietzsche teve a sua visão no caminho das nuvens de Engadin e os nipónicos fizeram do Monte Fuji um ícone do sagrado (e do turismo).

O homem que entra em si mesmo à procura da verdade precisa de igual modo subir à montanha simbólica e, pela tensão do espírito, por essa atenção expectante que tem sempre resposta, de que falava Simone Weil, caminhar também entre as nuvens.

Nem o espectáculo grandioso da natureza, nem a montanha mais alta são, contudo, portas abertas. É difícil reconstituir o sentimento original dessa beleza porque ela se encontra sepulta, como a Tróia de Schliemann, debaixo de várias camadas de cultura. Não são só o cliché e o must fotográfico, o nosso próprio passado se interpõe e faz ecrã.

Procurem imaginar o encontro do primeiro homem com o mar.

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