"O Processo" (1962-Orson Welles)
"A coisa mais importante, se se quisesse conseguir alguma coisa, era rejeitar à partida qualquer ideia de que ele pudesse ser de alguma maneira culpado. Não havia culpa. O processo não era mais do que uma grande organização, tal como já tinha concluído em benefício do banco muitas vezes, uma organização que escondia muitos perigos emboscados que o espreitavam, como é seu costume, e era desses perigos que precisava defender-se."
"O Processo" (Franz Kafka)
Estas observações são tanto uma genial premonição do regime burocrático como a extrapolação de uma experiência vivida, no mesmo espírito da descrita por Robert Musil, por exemplo, na sua Cacolândia.
A descrição do sistema de justiça como uma máquina, cega em relação a qualquer norma, a não ser a da coerência dos seus interesses funcionais, enquanto "grande organização", nesse sentido, igual à banca ou ao comércio, encontra um eco perfeito nas teorias de Niklas Luhmann.
A culpa é uma arma contra si próprio. Perante a grande máquina, para quem essa distinção é indiferente, K. decide prescindir dos serviços do seu advogado e bater-se como um homem perdido na selva. O máximo de civilização torna-se, assim, no seu contrário.
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