Inácio de Loyola, fundador da Sociedade de Jesus
"Tu vês portanto do que é que se trata para mim. O impulso que me sugere deixar Basini tranquilo é de origem vil, exterior. Tu és livre de lhe obedecer. Para mim, é um preconceito do qual devo desfazer-me como de tudo o que me afasta da Via. O próprio facto de me ser penoso atormentar Basini, quero dizer de o humilhar, de o esmagar, de o afastar de mim, é uma boa coisa. Exige um sacrifício. Agirá como uma purificação. Devo aprender cada dia, graças a isso, que o simples facto de ser um homem não significa nada, que não é mais do que uma semelhança exterior, uma macaquice."
"Les désarrois de l'élève Törless" (Robert Musil)
Musil, no seu diário, chama a atenção para as relações desta sua obra, publicada em 1906, com a política, para o facto de exprimir "as ditaduras de hoje in nucleo". E acrescenta: "E também a ideia de que a massa é qualquer coisa que é preciso dominar."
Aquele discurso de Beineberg (o herói de Törless) não é, verdadeiramente, um discurso racista, apesar do nome latino da vítima. Podia ser assumido por toda a vontade de poder "inspirada" por uma missão de ordem transcendente, em que o agente não é mais do que um instrumento - mas oh! quanto inebriado por essa obediência e essa missão!
O militantismo da ordem jesuíta e a sua divisa perinde ac cadaver , obedecer como um cadáver, é um bom exemplo desse espírito que transporta a vontade de poder, por procuração, para o seio da religião.
Ter pressentido, antes das duas guerras mundiais, o poder destrutivo das falsas asceses e a falácia do super-homem foi a grandeza de Musil.
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