domingo, 3 de agosto de 2008

O DIA DO GAFANHOTO


"The Day of the Locust" (1975-John Schlesinger)


"Os Estados Unidos da América foram o único país moderno a não ter enveredado pelo caminho que leva ao Estado de prevenção e de seguros, com a consequência de que, nele, a religião ou, em termos mais gerais, a "disposição fundamentalista" conservaria uma significação atípica da modernidade - opuseram-se às Luzes, que desagregaram a religião, como a todas as tentativas de retirar aos cidadãos as suas armas de fogo."

"Palácio de Cristal" (Peter Sloterdijk)


Um europeu não pode deixar de ter sob os Americanos um olhar "etnológico".

John Schlesinger, por exemplo, ao filmar langorosamente a fauna crepuscular de Hollywood, que se junta nas orgias de álcool e de sexo, como que à procura do antídoto para as horas dedicadas a simular emoções e ao fazer de conta, oferece-nos, sem solução de continuidade, uma sequência de histerismo religioso, com uma Geraldine Page extática, guiando o seu rebanho de alucinados para as verdes pastagens da outra vida, numa outra vertente da indústria do espectáculo.

Para fazer jus ao título bíblico do filme, "O Dia do Gafanhoto", o final é um vórtice de violência que absorve as estrelas e o seu público de fãs, a que se vêm juntar as personagens desta história de fracasso anunciado.

O espectáculo não é a vida, verdade de La Palisse. A violência espectacular é ainda a suspensão da verdadeira violência.

Talvez que a função catártica que Aristóteles via no teatro possa explicar a necessidade cada vez maior duma violência encenada em todos os media para controlar o maelström que ruge sob a fachada da normalidade e das convenções.

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