quinta-feira, 14 de agosto de 2008

EM ALPHAVILLE TALVEZ...



"Enganar-nos-íamos à mesma supondo que a opressão deixa de ser inelutável a partir do momento em que as forças produtivas estão suficientemente desenvolvidas para poder assegurar a todos o bem-estar e o lazer. Aristóteles admitia que não haveria já nenhum obstáculo à supressão da escravatura se se pudesse fazer assumir os trabalhos indispensáveis por "escravos mecânicos", e Marx, quando tentou antecipar o futuro da espécie, apenas retomou e desenvolveu esta concepção."

"Réfléxions sur les causes de la liberté et de l'oppression sociale" (Simone Weil)


A razão deste engano é, segundo Simone, a "corrida ao poder" que é um flagelo de que nenhuma sociedade está livre, e isto porque a força é necessária na luta contra a natureza, ou contra os homens, quando a relação com a natureza deixa de se fazer directamente.

Esta seria a origem dos privilégios e de todo o monopólio, quer ele seja constituído pelos "procedimentos científicos", as armas, a moeda ou a coordenação dos trabalhos, com o poder de alguns dirigentes tornado necessário desde que ela atinge um certo grau de complicação e "a primeira lei da execução é então a obediência."

Todas estas fontes de poder são exteriores ao indivíduo e precárias por natureza, dependendo das condições objectivas e da situação política, o que leva a que, quase sempre, para se conservar, o poder tenha de agravar a opressão. O poder nunca é estável e é por isso que Simone prefere a expressão "corrida ao poder".

Esta análise, se é pessimista quanto à possibilidade dos homens se libertarem de vez da opressão social, tem o mérito de explicar por que nas experiências tentadas de revolução política e social, o princípio da igualdade não tenha tido melhor sorte do que o da liberdade, tendo sido sempre vencido pela necessidade de se reerguerem novos privilégios e monopólios.

A ilusão de que todos procuram o máximo bem-estar e que adeririam, racionalmente, a uma sociedade "livre" logo que as forças de produção tivessem atingido o grau necessário de desenvolvimento é pertinaz e anima todos os crentes quer nas reformas, quer na Revolução.

Temos de nos perguntar, porém, se as condições objectivas por detrás da opressão não são susceptíveis, pela tecnologia, de promoverem uma certa espécie de igualdade, levando a humanidade a prescindir de todas as formas políticas de poder, mas para as transferir para os supercomputadores de Alphaville...

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