domingo, 10 de agosto de 2008

O VÍCIO, ESSE ESCULTOR



"Digamos numa palavra que Mme Verdurin, mesmo fora das mudanças inevitáveis da idade, não se parecia já com aquela que tinha sido no tempo em que Swann e Odette escutavam em sua casa a frasezinha. Até quando a tocavam, ela já não era obrigada ao ar extenuado de admiração que ela tomava outrora, porque este se tinha tornado o seu rosto."

"Sodome et Gomorrhe" (Marcel Proust)


Tal como o vício toma conta do corpo e se estampa no rosto, a tensão permanente causada por uma afectação de sensibilidade tinha-se tornado a máscara da "patronne".

Ao abrigo dessa máscara, o pensamento de Mme Verdurin podia alhear-se completamente da música.

A deformação da sua fronte (como a dos membros pelo reumatismo, diz Proust) fora esculpida pelo esforço da vaidade, ideia que nos faz irresistivelmente evocar o romance de Wilde.

Se o retrato se corrompe na tela enquanto Dorian Gray permanece afrontosamente jovem, o espírito musical de Mme Verdurin, liberto de todas as convenções, entrega-se a orgias de sensibilidade imaginárias enquanto a máscara esconde a devastação da sua alma.

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