sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A CHÁVENA DA CRIAÇÃO


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"O mesmo acontece com o nosso passado. É trabalho baldado procurarmos evocá-lo, todos os esforços da nossa inteligência são inúteis." Por isso Proust não hesita em afirmar, em síntese, que o passado "está escondido, fora do domínio e do alcance da nossa inteligência, em algum objecto material [...] de que não suspeitamos. Depende do acaso encontrarmos esse objecto antes de morrermos, ou não o encontrarmos."

"Proust, citado por Walter Benjamin in "A Modernidade"


Faz tanto sentido esta espacialização da memória que nos espanta termos tido que esperar pelo século XX para podermos colher a sua ideia nas páginas do grande romance sobre o tempo.

A nossa inteligência não tem acesso a esses "arquivos" porque é eminentemente prática. A menos que, como Proust, dedicássemos a nossa vida à busca do passado real (que se prolonga no presente e explica as nossas inclinações mais secretas), a lenda, a poesia do tempo não chegam à consciência.

A utopia deste pensamento é a dumas águas-furtadas contendo todo o passado sob a forma dos mais diversos objectos que tiveram algum significado para nós. Bastaria abrir o baú para a infância regressar na sua inocência e virgindade.

Mas é claro que abdicamos de toda a ideia de acção, nessa cerimónia. E é por isso que a inteligência nunca nos dará a chave dessas águas-furtadas.

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