sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A MORTE ACOCORADA


Rainer Maria Rilke

"(...)
Mas dentro do arnês do cavaleiro,
atrás dos mais escuros anéis,
a morte espera acocorada e medita e medita:
- Quando saltará a lâmina da libertação,
que venha buscar-me deste esconderijo
onde passo já tantos
dias assim dobrada, -
que eu me possa estender ao comprido
e brincar
e cantar."

"O Cavaleiro" (do "Livro das Imagens" de Rainer Maria Rilke, tradução de Paulo Quintela)


Que imagem da morte é esta que nos parece um bicho prisioneiro da hora em que uma ponta mais aguçada do mundo porá fim à separação da alma?

A sua meditação é o desejo de cumprir-se, de fazer o seu trabalho e entregar-se depois aos jogos da sua inocência.

Um bicho "álacre e sedento, de focinho pontiagudo", ou uma criança, sem maldade, ansiando apenas pela libertação, como uma força de vida que não se expande sem que noutro ponto do universo, ou no corpo do cavaleiro, outra coisa se não contraia, ou a luz não se torne negra.

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