""Não há dignidade que não assente no sofrimento."(*) O sofrimento faz de nós solitários e alimenta-se da solidão que gera. Fugir a ela é o objecto do esforço fanático daqueles que têm a palavra nesta obra. O lado patético deste livro está mais intimamente relacionado com o seu niilismo do que se poderia pensar."
"A Modernidade" (Walter Benjamin)
(*) In "A condição humana" de André Malraux
E Benjamin explica que os heróis de "A condição humana": "vivem para o proletariado, mas não agem como proletários. Agem muito menos a partir de uma consciência de classe do que a partir da sua própria solidão."
Podia citar-se Adorno na sua crítica amigável a Benjamin: "(...) Você impôs a si próprio e às suas ideias mais fecundas uma espécie de censura prévia das categorias materialistas (que de modo nenhum coincidem com as marxistas) (...)"
É inútil dizer que os heróis do livro de Malraux não agem como proletários, visto que eles são o que são. Mas se não agem como proletários por que deveriam viver para eles?
A "censura das categorias" de que fala Adorno leva-o a contrapor à consciência individual (e só os indivíduos podem ter consciência) uma espécie de unicórnio sociológico que é a consciência de classe. Outra coisa é o sentimento, a solidariedade, etc.
Quanto à sentença de Malraux, parece-me cripto-cristã. Se é certo que todo o sofrimento força ao respeito, à piedade quase sempre, a forma de cada um, quando a conseguimos ver como "natureza" encerra em supremo grau a dignidade.
Aquele veado, no final do filme de Cimino ("O Caçador") cuja vida Robert de Niro é movido a poupar não é um exemplo de dignidade?
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