sexta-feira, 29 de agosto de 2008

DUAS DECLARAÇÕES


Jean-François de Troy
The Declaration of Love (1724)


"(...) uma declaração de amor, para ser absolutamente convincente, exigia sempre uma segunda declaração. No século dezassete, esta tinha sido a "declaração do seu nascimento"; era preciso dizer ou provar que o amante era um príncipe ou um pretendente do mesmo nível da dama. No século dezanove isso foi substituído pela declaração da intenção de se casar."

"Love as Passion" (Niklas Luhmann)


A ideologia do amor, ou a sua semântica, como Luhmann prefere chamar-lhe, tem, assim, vindo a separar-se da estratificação social.

No nosso tempo, nem uma segunda declaração se torna necessária. O problema é que, reduzido a uma única declaração, o amor depende da sua capacidade de exprimir, de forma convincente, a sua sinceridade, e isso é cada vez mais problemático, porque nem o próprio tem sobre isso um critério seguro. Não se trata apenas de ser sincero no momento, mas ao longo duma relação complexa. "Deveria a outra pessoa engatar-se à nossa temperatura, como um termómetro?"

É por isso que essa prova é confiada à sexualidade, que substitui a intensidade das emoções à sua transparência.

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