terça-feira, 12 de agosto de 2008

O MOSCARDO


Sócrates (470–399 a.C.)


"E quando Sócrates dizia que, na sua opinião, nada poderia ser melhor para Atenas do que a maneira como ele a espicaçava, um pouco do mesmo modo que um moscardo pica um cavalo grande e bem alimentado mas um pouco indolente, só podia querer, então, dizer que nada pode acontecer de melhor à multidão que desfazer-se, repartindo-se em homens singulares que podem ser interpelados na sua singularidade."

"Responsabilidade e Juízo" (Hannah Arendt)


Mas não basta pensar pela sua cabeça, sem os critérios nem as regras "definitivamente fixados" a que obedece o comum dos homens.

Essa independência implica também que a pessoa se cometa com o processo do próprio pensamento, como diz Arendt, sem o que ela pode, de facto, corromper-se ao ver-se privada das "regras e critérios que, sem pensar, até então adoptava".

Os que condenaram Sócrates fizeram-no no pressuposto de que, examinada a moral, a sociedade corria perigo por os homens se tornarem ingovernáveis.

Mas, como diz a filósofa, é a situação crítica que reclama o exame socrático, pois as convenções, então, já não estão à altura da situação.

O que significa ser responsável pelo "processo do pensamento" é, pois, seguir a sua vocação de regra universal (ao jeito do imperativo kantiano), e é isso que quer dizer pensar bem ou ter razão.

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