Marx, embora não tenha criado o termo capitalista,
inventou o sistema e a dialéctica da sua "superação". Sabe-se como isso influenciou e continua a
influenciar a interpretação da economia e da política, mesmo naqueles que não
se revêem no marxismo. É como a invocação, por muitos, do nome de Deus (de facto, em vão) na
linguagem corrente.
Até se descobrir uma outra dialéctica que torne o mundo
mais suportável, ou menos injusto, o recurso às profecias do barbudo de Trier
será sempre preferido ao sentimento duma impotência para toda a eternidade.
Esse novo reino anunciado, é verdade,
desperta em nós um eco familiar. Isto, pelo menos, quanto à esquerda.
Do outro lado do "hemiciclo", é-se crente de
outra maneira, que é a dos que varrem a testada da sua porta e entregam à Providência, ou à "Mão
invisível" ( mas também ao Partido ) a outra parte da justiça.
É fácil de reconhecer nestas diferenças os amigos da
liberdade ( que não se pode confundir com a impunidade dos que limitam a seu
bel-prazer o espaço dos outros) e por que é que a liberdade tem de ser traída
com as primeiras posições conquistadas.
Um documentário como "Catastroika" que neste
momento se propaga na Internet, revela-nos, mais uma vez, que a economia já há
muito não é "a última instância". Nada se parece agora compreender
pela economia, porque o "crime social" infectou todas as instâncias
do poder. A democracia parece, assim, uma encenação para manter a imagem da
decência, enquanto, nos fundos, como no tempo da Lei Seca, se joga e se bebe à discrição,
com a cumplicidade da polícia.
A história da luta de classes pouco nos ajuda nesta
instância, porque os novos saqueadores dos recursos de todos não desempenham
qualquer papel no processo produtivo. Não têm também futuro porque devoram toda
a riqueza da terra sem lhe darem tempo de se regenerar.
Assim como foi a subversão do Estado moderno e o poder da
ideologia veiculada pela tecnologia da época que permitiu a
"eficácia" de Hitler, podemos pressentir nesta subversão da
democracia, a começar nos países em que até há pouco existia ainda uma tradição
exemplar, o suicídio duma cultura que causará mais estrondo do que a implosão
soviética.
Os dois mundos estão, aliás, ligados. Esquecemo-nos
facilmente que a antiga URSS apoiou (mas só "objectivamente"), e pela sua simples
existência, a luta pela justiça nos países do Ocidente, evidentemente, com o
sacrifício dos pesados orçamentos militares. Mas o fim da URSS, sobre o que, no
documentário, há alguns pormenores sinistros, parece só ter libertado os
predadores, sem qualquer benefício para os povos.
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