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"O mal francês, sabe-se qual é: inventam-se sempre
novos estratos, mas é-se incapaz de suprimir outros. A minha pergunta é a
seguinte: por causa da descentralização, não há um degrau a mais e, se ele se
encontra ao nível local, o senhor suprimiria essa colectividade que
dirige?"
(Jean-Louis Le
Moigne no colóquio de Cerisy, "Intelligence de la complexité)
Dizia uma personagem de Musil que a vida se complica
sempre que nos deixamos enredar pelos sentimentos, em vez de irmos direitos ao
fim que temos em vista.
A descentralização parece ser uma boa coisa, embora não
em todas as circunstâncias, ou então deveríamos, talvez, regressar ao
feudalismo. Mas haverá um processo, em democracia, de suprimir um
"estrato" para dar lugar a outro, sem usar de alguma forma de
violência, nomeadamente, a de submeter os interesses da minoria aos duma
proclamada maioria?
Nas reestruturações empresariais, por exemplo, quando há
algum equilíbrio do poder, recorre-se à "revolução" temporal, com a
passagem gradual, pela reforma dos mais velhos, para um novo organograma. Nos
tempos que correm, porém, a democracia deixou de estorvar, e a mudança faz-se
como se não se tivesse de lidar com pessoas nem com sentimentos.
Encontrei nos ensaios de Vasco Pulido Valente, um
saboroso oxímoro para caracterizar o regime da primeira república: a ditadura
democrática. Não estamos longe.
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