quarta-feira, 30 de maio de 2012

OXÍMORO

teleios.com.br

"O mal francês, sabe-se qual é: inventam-se sempre novos estratos, mas é-se incapaz de suprimir outros. A minha pergunta é a seguinte: por causa da descentralização, não há um degrau a mais e, se ele se encontra ao nível local, o senhor suprimiria essa colectividade que dirige?"

 (Jean-Louis Le Moigne no colóquio de Cerisy, "Intelligence de la complexité)



Dizia uma personagem de Musil que a vida se complica sempre que nos deixamos enredar pelos sentimentos, em vez de irmos direitos ao fim que temos em vista.

A descentralização parece ser uma boa coisa, embora não em todas as circunstâncias, ou então deveríamos, talvez, regressar ao feudalismo. Mas haverá um processo, em democracia, de suprimir um "estrato" para dar lugar a outro, sem usar de alguma forma de violência, nomeadamente, a de submeter os interesses da minoria aos duma proclamada maioria?

Nas reestruturações empresariais, por exemplo, quando há algum equilíbrio do poder, recorre-se à "revolução" temporal, com a passagem gradual, pela reforma dos mais velhos, para um novo organograma. Nos tempos que correm, porém, a democracia deixou de estorvar, e a mudança faz-se como se não se tivesse de lidar com pessoas nem com sentimentos.

Encontrei nos ensaios de Vasco Pulido Valente, um saboroso oxímoro para caracterizar o regime da primeira república: a ditadura democrática. Não estamos longe.
 

0 comentários: