terça-feira, 15 de maio de 2012

AS CRIANÇAS

Sócrates



"A teleologia não é proibida quando as explicações vão para lá da ciência, até à metaciência."

(Freeman Dyson, 1989)


Quando temos que explicar o que não sabemos (porque pode ser necessário, ainda assim, "ter uma ideia"), normalmente contamos uma história.

É assim que replicamos à ânsia de respostas duma criança saudável. E é claro que essas respostas são do género teleológico, quer dizer, exprimem finalidades. Deus é a teleologia no estado puro, mas não vamos muito longe se nos servirmos dessa ideia como explicação universal.

Ora, para não nos colocarmos a questão dos fins, podemos sempre simplificar os contextos e  criar explicações isoladas, onde funciona o princípio da causalidade. Em determinadas condições, as leis da física dispensam-nos de procurar mais longe.

As crianças são mais difíceis de contentar, na medida em que nos obrigam quase sempre a falar do que não sabemos, daquilo a que só podemos responder contando histórias.

As perguntas essenciais são na verdade teleológicas e quem nada sabe (isto é, aquele que não elaborou suficientemente o mundo antropológico, em que a cultura e a ciência desempenham um papel fundamental) tem de aprender a fazer as perguntas certas.

O dito socrático é por isso duas vezes verdadeiro. Sócrates teve de "desaprender" para chegar à conclusão de que não sabia. O seu método era o de levar os outros pelo mesmo caminho. Não para acumularem um novo saber, "desalienado", mas para alcançarem a "metaciência" e nela se manterem, como crianças "não-ingénuas".

0 comentários: