Quintus Horatius Flaccus (65 AC/ 8 AC) |
"quid brevi tortes iaculamur aevo
multa? quid terras alio calentes
sole mutamus? patriae quis exsul
se quoque fugit?"
(Porquê tanta fadiga
em nossas curtas vidas por possuir mais e mais? Por que deixamos o nosso
país por climas que aquece um outro sol? Que exílio da pátria permitiu a
alguém, ao mesmo tempo, escapar a si mesmo?)
Horácio
Traduzo assim, livremente, a partir do inglês, e a
primeira constatação é que empreguei o dobro das palavras, tal é a concisão do
latim clássico. Lapidar é o termo.
A frugalidade elogiada pelo poeta era já uma lembrança no
tempo em que escreveu a sua ode. Alguém suspiraria pela simplicidade da
república na idade de Augusto, se não se sentisse amargurado pelos novos
costumes, não propriamente decadentes, visto que o império durou quase tanto
como aquela "idade de ouro"? Mas a virtude espontânea dos
antepassados teve de ser prègada pelo "pai da pátria" em que se
tornou o primeiro imperador, sobrinho de César.
Acontece que, hoje, a situação de crise pareceria
justificar, da parte do poder, uma tal prègação. Mas, em vez disso, o que temos
é o discurso da austeridade. Uma austeridade que não se pode prègar como
virtude estóica, mas apenas como um purgante, um incómodo temporário para
se recuperar a saúde económica. E a razão disto é, evidentemente, que o consumo se tornou
um dos deuses da nossa época.
De resto, que sentido teria, na era da tecnologia, a
moral de uma pastorícia homérica? Para o bem e para o mal, as nossas
"extensões" mcluhanianas fazem parte do que somos. Sem a tecnologia,
teríamos, desde logo, de abandonar as cidades...
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