quarta-feira, 9 de maio de 2012

CULTURA

Joseph Goebbels

Goebbels dizia que puxava da pistola sempre que ouvia falar em cultura. Sendo um ministro todo-poderoso, sabia, no entanto, que a cultura não estava ao seu alcance, por isso distinguia-a bem da propaganda.

O mundo parece ter passado bem sem políticas culturais  até ao século vinte. Poderá dizer-se que, por exemplo, a Igreja do Renascimento, com as suas encomendas aos grandes artistas, teve uma?

A certa altura, quando faltaram os mecenas e a arte evoluiu para os grandes empreendimentos com uma multidão de artistas e de técnicos, o apoio do Estado à cultura tornou-se, em muitos casos,  uma condição necessária à própria oferta desse tipo de arte.

Com isso, frequentemente se confundiu a cultura com o prestígio do próprio Estado, que tinha de garantir a existência de um teatro lírico ou de um cinema nacional.

Mas o Estado que subvenciona não cria a cultura. Cria apenas algumas condições que, no presente momento, nem sequer podem ser garantidas. Como a cultura, no essencial, é independente do Estado, assistiremos, possivelmente, a uma metamorfose cultural em que algumas formas de arte minguarão e outras surgirão mais adaptadas ao tempo. No balanço final, não sabemos se este virá a ser um período rico ou pobre no aspecto cultural.

Outra questão importante é a de saber se o impulso político na cultura deverá ser "democrático", isto é, tendente a privilegiar o maior número, política que alguns definem como a de conformar a arte ao público.

Mas seria errado limitar a criação artística por uma tal bitola, porque isso significaria a pior forma de censura, a do conformismo ideológico. Não fez outra coisa o nazismo ao criticar toda a arte moderna como degenerada, com excepção da que seguisse o cânone do regime.

A criação do novo tem, em princípio, um efeito revolucionário qualquer que seja o campo em que se exerça. É natural que a maioria dos espíritos resista a essa novidade. O princípio democrático aplicado à arte levar-nos-ia a uma selecção natural às avessas: só o medíocre sobreviveria. Eis por que seria perigosa a "política cultural" que tivesse por principal objectivo divulgar a arte e promover o nivelamento dos "entendedores".

Parece que, pelo contrário, essa política devia multiplicar e alargar as elites e os vários tipos de público, sem pretender que o que se faz de melhor só seja válido se for entendido por todos.

É isto uma concepção aristocrática da arte e da cultura? Mas quem disse que o melhor deve ser sacrificado ao mais partilhado (o gosto "médio", o bom senso?).

A prova que o que nos convém é o melhor está nos efeitos benéficos para todos das paixões exclusivas nas ciências e nas artes.

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