Joseph Goebbels |
Goebbels dizia que puxava da pistola sempre que ouvia
falar em cultura. Sendo um ministro todo-poderoso, sabia, no entanto, que a
cultura não estava ao seu alcance, por isso distinguia-a bem da propaganda.
O mundo parece ter passado bem sem políticas
culturais até ao século vinte. Poderá
dizer-se que, por exemplo, a Igreja do Renascimento, com as suas encomendas aos
grandes artistas, teve uma?
A certa altura, quando faltaram os mecenas e a arte
evoluiu para os grandes empreendimentos com uma multidão de artistas e de
técnicos, o apoio do Estado à cultura tornou-se, em muitos casos, uma condição necessária à própria oferta
desse tipo de arte.
Com isso, frequentemente se confundiu a cultura com o
prestígio do próprio Estado, que tinha de garantir a existência de um teatro
lírico ou de um cinema nacional.
Mas o Estado que subvenciona não cria a cultura. Cria
apenas algumas condições que, no presente momento, nem sequer podem ser
garantidas. Como a cultura, no essencial, é independente do Estado,
assistiremos, possivelmente, a uma metamorfose cultural em que algumas formas
de arte minguarão e outras surgirão mais adaptadas ao tempo. No balanço final,
não sabemos se este virá a ser um período rico ou pobre no aspecto cultural.
Outra questão importante é a de saber se o impulso
político na cultura deverá ser "democrático", isto é, tendente a
privilegiar o maior número, política que alguns definem como a de conformar a
arte ao público.
Mas seria errado limitar a criação artística por uma tal
bitola, porque isso significaria a pior forma de censura, a do conformismo ideológico.
Não fez outra coisa o nazismo ao criticar toda a arte moderna como degenerada,
com excepção da que seguisse o cânone do regime.
A criação do novo tem, em princípio, um efeito
revolucionário qualquer que seja o campo em que se exerça. É natural que a
maioria dos espíritos resista a essa novidade. O princípio democrático aplicado
à arte levar-nos-ia a uma selecção natural às avessas: só o medíocre
sobreviveria. Eis por que seria perigosa a "política cultural" que
tivesse por principal objectivo divulgar a arte e promover o nivelamento dos
"entendedores".
Parece que, pelo contrário, essa política devia
multiplicar e alargar as elites e os vários tipos de público, sem pretender que
o que se faz de melhor só seja válido se for entendido por todos.
É isto uma concepção aristocrática da arte e da cultura? Mas quem disse que o melhor deve ser sacrificado ao mais
partilhado (o gosto "médio", o bom senso?).
A prova que o que nos convém é o melhor está nos efeitos
benéficos para todos das paixões exclusivas nas ciências e nas artes.
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