quarta-feira, 16 de maio de 2012

O NIRVANA

Léon Walras (1834/1910)

"O projecto Walrasiano foi uma pesquisa de cem anos e uma teoria de desenvolvimento em economia para provar que, sob certas condições, os mercados livres alcançarão o que é chamado um equilíbrio geral. Isto é, um ponto em que a oferta coincide exactamente com a procura, toda a gente está satisfeita com a distribuição de recursos e nenhuma melhoria nas trocas pode ocorrer. É o nirvana. E é também impossível de atingir."

Peter Radford ("Banking and orthodox economics: an ugly brew")


Radford pensa que o pensamento que vigora nos grandes centros de decisão do capitalismo financeiro, apesar das "lições" que trouxe a crise mundial, é, no fundo, walrasiano.

Ora, a teoria walrasiana é a versão mais recente da "Mão invisível" de Adam Smith, que por sua vez poderá filiar-se no optimismo leibniziano do "melhor dos mundos possíveis". Mas podemos abstrair-nos de tão ilustres predecessores e considerar a atracção fatal pelo jogo dum Banco como o JP Morgan  como um caso vulgar de cupidez humana. Cupidez de quem "arrisca", senão o bónus da sorte, pelo menos uma pensão milionária.

É que para estes "decisores" não houve um erro, nem uma ortodoxia económica foi desacreditada (quem pode dizer a que distância estamos do "equilíbrio geral", ou do nirvana, como lhe chama Radford?). A economia é, precisamente, este vudu onde as teorias nunca morrem definitivamente, porque é impossível, como dizia Popper, "falsificá-las".

Não será a ruína geral que pode desmascarar Walras, ou as hossanas da desregulação. Na verdade, não é possível começar numa lousa limpa. Os salvadores, como num filme de John Carpenter, são agentes infiltrados de entidades, demasiado grandes para serem julgadas, como a Goldman Sachs.

O mal é intrínseco e a teoria do "equilíbrio geral" faz parte  da boa consciência dos novos predadores darwinianos. Porque podemos estar certos de que, na selva da grande finança, poucos são os verdadeiros cínicos. Aqueles que podem dispensar a absolvição de qualquer Opus Dei ou, mais geralmente, da "Economia". 

A economia política morreu, viva  então a Economia!

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