quinta-feira, 31 de maio de 2012

O LADO DE ALICE

"Alice in Wonderland" (Tim Burton)

"- 'Já lhes cortaram a cabeça?' gritou a Rainha.
- 'As cabeças deles já foram, para  servir Sua Majestade!' gritaram os soldados por resposta.
- 'Está bem!' gritou a Rainha. 'Sabes jogar o críquete?'
Os soldados ficaram em silêncio e olharam para Alice, como a pergunta lhe era evidentemente dirigida."


"Alice no País das Maravilhas" (Lewis Carroll)



Na paródia de Mel Brooks sobre a história do mundo, o rei, depois de exercitar a pontaria num dos seus súbditos que passeava nos jardins de Versalhes, exclama: - "It's good to be a king!"

Apesar da crueldade de ambas as cenas, é duvidoso se contribuiriam para a revolução social.  A fantasiosa decapitação dos três jardineiros da Rainha de Copas ou o hipotético "tiro ao alvo" de Luís XV são, evidentemente, imagens do poder arbitrário, mas o poder tende sempre para isso. Porque só comia carne humana, o  Minotauro da lenda exigia o sacrifício permanente de homens e mulheres, mas com o tempo, até a sua antropofagia se tornou mais selvagem.

Assim como não é a miséria que se revolta contra o seu estado, as vítimas do poder arbitrário precisam de escapar primeiro à sua prisão imaginária (e a das imagens projectadas pelo poder) para conceberem a revolta.

O fio da Ariadne é muito mais do que um estratagema. Ela viu com os olhos de Alice e com a sua "incredulidade".

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