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"O espírito do homem, limitado nas suas capacidades
de simulação dos sistemas complexos, delega na máquina as simulações
participativas necessárias à verificação experimental do sistema formalmente
modelizado."
(Jacques Tisseau e Marc Parenthöen, "Modelização enactiva e autonomização
")
Assim, a máquina substitui-se à experiência humana, ao
"ver para crer" de S. Tomé, para validar o modelo matemático.
É certo que, desde o telescópio, já não verificamos
directamente o que se passa no mundo (neste caso, da macrofísica). Mas nós não
podemos alterar os dados "observados", quando se trata da
astrofísica, enquanto que um modelo matemático introduzido nas operações
estratégicas duma Goldman Sachs tem, na
economia e na vida das pessoas, o efeito dum tsunami.
Em "Margin Call" (2011, J.C. Chandor ), um
jovem analista descobre que a ilusão dos algoritmos financeiros e a anestesia causada pelos sumptuosos bónus tinham levado o seu banco até à beira do precipício. Logo as cúpulas reúniram de madrugada para salvarem a pele à custa dos seus clientes, vendendo-lhes o gato escaldante. O ajuste de contas com a realidade não teve, assim, para os responsáveis, consequências de maior.
Já alguém disse que tudo se passa demasiado depressa
neste mundo da simulação electrónica para ser realmente
"compreendido" por um cérebro humano. Como não se lobriga no
horizonte a "polícia" dum limite de velocidade, teremos, cada vez
mais, de confiar nas boas máquinas e nos bons algoritmos (para falar só do que
à ignorância diz respeito, porque para os que fazem o mal conscientemente, couraçados pelos pretensos exemplos da natureza, é o "quanto pior melhor").
Será este o fim inglório do humanismo, às mãos da
"razão técnica" tornada um novo bezerro de oiro? O reino dos fins passaria do criador para a
criatura.
Mas saber se realmente criamos as nossas máquinas é
toda uma outra questão.
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