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"Ao cutelo mecânico da guilhotina corresponde o
tratamento estritamente igualitário do formulário administrativo que regista o
falecimento de 21 de Janeiro de 1793."
(Alain Boureau, citado por Henri Beausoleil)
O rei decapitado é nomeado simplesmente por Luís Capeto,
como qualquer cidadão. Mas é uma igualdade paradoxal. Não dizia Danton que a
Convenção não queria julgar o rei, mas matá-lo? Suprimi-lo como símbolo
significava suprimí-lo como homem, sem os direitos 'teóricos' de qualquer
cidadão.
Se estava condenado, mesmo antes da sentença, por força do silogismo implícito em todas as
cabeças revolucionárias, o julgamento do rei foi então uma farsa?
É aqui que entra o cerimonial exigido pela época. O
processo do rei teve o desfecho esperado e, ao mesmo tempo, temido por todos.
Lenine deve-se ter lembrado disso quando, alegadamente por ordem da autoridade soviética dos Urais, os Romanov foram executados em Ekaterinburg,
para cortar todas as pontes.
O cerimonial do século dezoito, com os meses de
tergiversação e de remissão dos juízes por uma espera supersticiosa, preparou a
forma despachada do poder bolchevique.
Entre uma revolução e outra surgiu a doutrina que
aliviava os ombros dos homens para carregar os da História.
A eliminação de Nicolau II foi também, à sua maneira,
"igualitária" como o formulário administrativo de 1793. Quando não
recorria ao teatro do absurdo (como nos processos de Moscovo), era essa a imagem
duma justiça por definição do lado certo.
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