"Sebastião (o superpio) que sendo corcunda e pé boto
sonha apenas com chagas, corcundas e cruzadas irá morrer em África com um
exército do qual só regressarão 50 homens. Os mouros vão capturar 9000 homens e
10000 guitarras."
Franz Villier ("Le Portugal", "Petite Planète", 1957)
A nossa imagem de povo-cigarra nunca foi tão crua como a
deste excedente das guitarras em Alcácer-Quibir, que dá a ideia de que não era
só o rei a padecer do espírito quimérico. Finalmente, os "infiéis"
revelaram-se um "osso duro de roer" que não se deixava embalar por
cantigas de amigo ou de mal-dizer. É mais um caso, entre os tantos da história,
em que a protecção divina falhou e o inimigo subestimado se tornou no
procurador da realidade.
Chegámos mesmo a dormir esse sono ou a sonhar esse sonho,
que seria um sonho recorrente do qual temos, de tempos a tempos, de acordar
estremunhados, ou, para sermos justos, temos de deixar o povo de fora?
Essa nobreza sem fibra que acompanhou o rei lunático não
vive hoje nas nossas "elites", elites que nos conduzem, uma e outra
vez, ao desastre, validando a caricatura estrangeira que gostaríamos todos que
já fosse um anacronismo?
Basta pensar na outra imagem que é a do nosso emigrante
para "não metermos tudo no mesmo saco."
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