segunda-feira, 14 de maio de 2012

10000 GUITARRAS



"Sebastião (o superpio) que sendo corcunda e pé boto sonha apenas com chagas, corcundas e cruzadas irá morrer em África com um exército do qual só regressarão 50 homens. Os mouros vão capturar 9000 homens e 10000 guitarras."


Franz Villier ("Le Portugal", "Petite Planète", 1957)



A nossa imagem de povo-cigarra nunca foi tão crua como a deste excedente das guitarras em Alcácer-Quibir, que dá a ideia de que não era só o rei a padecer do espírito quimérico. Finalmente, os "infiéis" revelaram-se um "osso duro de roer" que não se deixava embalar por cantigas de amigo ou de mal-dizer. É mais um caso, entre os tantos da história, em que a protecção divina falhou e o inimigo subestimado se tornou no procurador da realidade.

Chegámos mesmo a dormir esse sono ou a sonhar esse sonho, que seria um sonho recorrente do qual temos, de tempos a tempos, de acordar estremunhados, ou, para sermos justos, temos de deixar o povo de fora?

Essa nobreza sem fibra que acompanhou o rei lunático não vive hoje nas nossas "elites", elites que nos conduzem, uma e outra vez, ao desastre, validando a caricatura estrangeira que gostaríamos todos que já fosse um anacronismo?

Basta pensar na outra imagem que é a do nosso emigrante para "não metermos tudo no mesmo saco."


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