segunda-feira, 28 de maio de 2012

ERA UMA VEZ NA ANATÓLIA



Belas cenas nocturnas nas estepes da Anatólia, com a poeira dos carros da polícia desenhada na luz dos faróis, uma busca de fonte em fonte segundo as indicações confusas do assassino, para encontrar o local onde o corpo da vítima fora enterrado, as conversas daquela noitada entre os homens, e no centro uma cena de "levitação". A equipa, de que faz parte um médico e um procurador, faz uma pausa para descansar e tomar uma bebida quente numa pequena aldeia, em casa do chefe do município, Mukhtar. A cena é interrompida por um corte de electricidade, o que dá lugar a um comentário sobre as prioridades do "município" que se esforçava por obter apoio para uma morgue ( em terra de emigração, os corpos tinham que aguardar pela última homenagem dos ausentes). Numa luz que faz lembrar a pintura de La Tour, Cemile, a filha de Mukhtar, duma extraordinária beleza,  serve o chá, provocando nos rostos duros um movimento de admiração. A aparição não deixa ninguém indiferente, desatando a má-vontade do assassino, o que leva à rápida conclusão das buscas.

O prisioneiro chora porque o filho do morto, na verdade o seu filho, lhe atira uma pedra à cabeça. Na autópsia, o médico condoído omite uma circunstância agravante: havia terra nos pulmões da vítima, o que levava a supor que tivesse sido enterrado vivo.

A capacidade dos homens de se fazerem mal uns aos outros parece não ter limites e ser uma espécie de fatalidade. A história que o procurador conta ao médico duma mulher que anunciou a sua própria morte no seguimento da traição do marido, é como um comentário da história principal. Nêmesis no país dos turcos.
 

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