"Beati pauperes spiritu"
(Primeira das bem-aventuranças evangélicas citada por São
Mateus no capítulo V, versículo 3, e que inicia o Sermão da Montanha.)
Com a crítica marxista a "explorar o terreno",
estamos sempre a tropeçar no óbvio. A bem-aventurança dos simples é para a
outra vida, a dos astutos pode ser para esta. Parece mesmo haver uma regra de
compensação entre os dois mundos.
Na verdade, os "os pobres de espírito" não
precisam de esperar em futuros tesouros. Contentam-se com o que têm e do pouco
fazem muito. Felizes, portanto, se os deixarem em paz.
Ora, aí é que está o problema. Eles não estão conscientes
de todos os seus direitos e, por isso, nem pensam neles. Que espécie de
cidadãos se fará com esta massa? Os "simples" parecem estar já às
portas do Paraíso, sem que tenham feito nada para isso. Os outros podem
despender as forças e ter todo o mérito, mas eles foram bafejados pela graça.
Só porque são pobres em espírito não precisam de fazer
parte da cidade. Os problemas dos outros não são os seus problemas.
Esta "simplicidade" é já, talvez, o reino dos
Céus. Mateus tem por isso razão, "beati sunt".
O paradoxo é que aqui a verdadeira fé pareça estar do
lado do que quer salvar, tirando-os do seu sossego, aqueles a quem o
evangelista chama de "pobres de espírito".
O Sermão aboliu o tempo. A beatitude dos simples, dum
certo modo, é já. O profeta do Manifesto não fala doutra coisa senão do tempo (que
há-de vir).
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