Michael Fassbender em "Shame" |
Uma das primeiras questões que "Shame", de
Steve McQueen, levantou foi a de não ser "sexy", apesar do sexo estar presente do princípio ao fim.
Mas é o sexo "desconectado" do mundo (dos outros), e a caça solitária
ao prazer revela-se, pelo menos no domínio do corpo e das emoções, um impasse
trágico.
Nesse sentido, a personagem Brandon (excelente
Fassbender, preterido, nos prémios, por Dujardin!) é uma figura tão
característica da nossa época, como o foi a de D. Juan noutros tempos.
D. Juan acaba tragicamente, e o seu "catálogo"
é o processo-verbal, não duma sucessão de conquistas, mas de um vício, de uma
dependência, em que é a alma que sai derrotada. É o que quer dizer a cena do Juízo
Final com o Conviva de Pedra.
Ainda não surgiu na literatura moderna o equivalente de
D. Juan Tenório. Ulrich, o herói de Musil, assinala o período da grande
perplexidade com a perda dos valores e a confusão das referências. Mas o
destino de Brandon tem mais a ver com a nossa tecnologia e com o nosso
individualismo 'à outrance'.
"Denise telefona" (1996, Hal Salwen) já nos tinha feito o primeiro
retrato da "desconexão paradoxal" (quanto mais ligados, menos
presentes). A vida de Brandon é a cores mais negras, porque, entretanto, o mal alastrou.
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