segunda-feira, 5 de março de 2012

BRANDON

Michael Fassbender em "Shame"


Uma das primeiras questões que "Shame", de Steve McQueen, levantou foi a de não ser "sexy", apesar  do sexo estar presente do princípio ao fim. Mas é o sexo "desconectado" do mundo (dos outros), e a caça solitária ao prazer revela-se, pelo menos no domínio do corpo e das emoções, um impasse trágico.

Nesse sentido, a personagem Brandon (excelente Fassbender, preterido, nos prémios, por Dujardin!) é uma figura tão característica da nossa época, como o foi a de D. Juan noutros tempos.

D. Juan acaba tragicamente, e o seu "catálogo" é o processo-verbal, não duma sucessão de conquistas, mas de um vício, de uma dependência, em que é a alma que sai derrotada. É o que quer dizer a cena do Juízo Final com o Conviva de Pedra.

Ainda não surgiu na literatura moderna o equivalente de D. Juan Tenório. Ulrich, o herói de Musil, assinala o período da grande perplexidade com a perda dos valores e a confusão das referências. Mas o destino de Brandon tem mais a ver com a nossa tecnologia e com o nosso individualismo 'à outrance'.

"Denise telefona" (1996,  Hal Salwen) já nos tinha feito o primeiro retrato da "desconexão paradoxal" (quanto mais ligados, menos presentes). A vida de Brandon é a cores mais negras, porque, entretanto, o mal alastrou.
 

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