quinta-feira, 22 de março de 2012

O IDIOTA



"O silêncio de imediato caiu na sala; todos olharam para o príncipe como se não compreendessem nem esperassem compreender."

"O idiota" (Fyodor Dostoiewsky)


O príncipe Myshkin é uma personagem apaixonante. As pessoas referem-se ao que chamam a sua 'simplicidade' (mas no sentido negativo), às vezes, com afecto, chamam-lhe rotundamente idiota. Myshkin nunca se ofende e parece concordar que não está no seu lugar neste mundo e que os outros estão sempre melhor informados. Com isto, toma partido muitas vezes, quando os sentimentos estão em causa, mas de um modo tão 'naïf' que agrava quase sempre a situação. Sente uma alegria verdadeira, quando pensa ter contribuído para tornar o mundo um bocadinho melhor (quando põe as pessoas de bem umas com as outras) e expressa-a  como uma criança, sobretudo, quando nunguém o está a ver.

O príncipe esteve alguns anos num sanatório suiço a tratar a sua epilepsia e regressou com vinte e sete anos a S.Petersburgo. Mas é claro que Myshkin não é como o Pierre Bezuhov de Tolstoi que, quando chega da sua educação europeia, se mostra igualmente desastrado no salão de Anna Pavlovna. Suspeitamos que a bondade daquele seja, de facto, o resultado duma deficiência cerebral. Pelo menos, é assim que os outros consideram o caso (com excepção, talvez, das duas mulheres - Anastassya e Aglaya -que não sabem se é amor o que sentem, nem o que fazer com esse sentimento).

É claro que ele não sabe o que quer e que é alguém de extremamente influenciável (quase na fronteira do Zelig de Woody Allen).

Assim, o maior mistério da novela de Dostoiewsky é o de saber o que no comportamento deste maravilhoso "idiota" é a consequência do olhar e da opinião dos outros.

Myshkin parece apenas ter mudado de sanatório, pois que a sua "doença" continua a ser monitorizada e alimentada pelas suas relações. Como o psicopata que não consegue provar que é normal, desde que aquela etiqueta lhe foi colada na testa.

Idiota pode ser todo aquele que não cumpre o protocolo.
 

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