"Para ele (Maquiavel) o ponto decisivo era que todo
o contacto entre a religião e a política tem de corromper as duas, e que uma
Igreja não corrompida, se bem que consideravelmente mais respeitável, seria
ainda mais destrutiva para o domínio público do que a Igreja corrompida de
então."
(Hannah Arendt)
O que nos permite compreender por que razão os períodos
revolucionários, em que o "espaço público" é lavrado em todos os
sentidos pelo fanatismo das ideias que não deixa lugar à palavra nem à acção
política por ela motivada, ou pela vontade de "transformar o mundo",
inspirada na ideia industrial (a de pôr a "máquina nos eixos", com
uma bela certeza "operária"), de facto, inviabilizam a política, ou a
corrompem por muito tempo.
Temos também uma ideia do que pode ser uma "Igreja" (ou um Partido) que não se
deixa "corromper", isto é, que não se converte ao regime da palavra e
da discussão pública da 'polis', impondo uma pureza de ideais que faz a sua força,
mas que pode destruir a 'cidade'.
A famosa questão dos princípios, constantemente invocados
para preservar da 'corrupção' política todo o revolucionário, princípios que,
está bom de ver, são independentes das situações reais, permitindo o exercício
"livre" da vontade, ilustra bem como a eficácia da religião e da
política "não corrompidas" depende do seu isolamento. Contudo, é
preciso dizer que a eficácia aqui mencionada é o que há de mais paradoxal,
visto que não se pode medir pela sua conformidade às ideias e aos princípios
que a inspiraram, porque sempre a história, tal como Deus, preferiu escrever
por "linhas tortas".
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