quinta-feira, 1 de março de 2012

BATER NO FETICHE

Nkonki fetish statue

"O homem primitivo bate no seu fetiche quando encontra a desgraça; o homem civilizado bate nele próprio.

(Susan Neiman)


Não podemos descartar-nos da ideia da responsabilidade, sem deixarmos de ser quem somos. Um bramanista não levaria a presunção até esse ponto. Porque, de facto, a desgraça chega-nos dos mais diferentes quadrantes, sem que possamos, as mais das vezes, imaginar porque fomos "escolhidos". Mas, sem dúvida, estamos mais prontos do que outros para aceitar essa "honra",  porque estamos condenados a pecar todos os dias, "não sete vezes, mas setenta vezes sete".

A ideia da liberdade, como estado da consciência, está no âmago das constituições mais avançadas. E, portanto, a desgraça, duma maneira ou doutra, está sempre justificada por qualquer coisa que fizemos ou deixámos de fazer. Mesmo se embarcámos  num voo que correu mal.

A verdade é que, mesmo se a liberdade perante as forças e as circunstâncias for uma questão de fé ( e que outra coisa poderia ser?), o nosso mundo seria um lugar impossível se todos acreditássemos que não havia nada a fazer e que, no final, um deus justo não poderia deixar de nos absolver.

O "bater no fetiche", contudo, não desapareceu dos nossos costumes. O Sócrates Menor que o diga...
 

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