quarta-feira, 28 de março de 2012

ALAVANCAGEM

Brasão imperial da Áustria

"(...) quem quer que hoje pretenda realizar grandes ideias políticas deve ser um pouco especulador, ou um pouco criminoso!"

"O Homem Sem Qualidades"   (Robert Musil)



Palavras do conselheiro Tuzzi a Ulrich, o homem sem qualidades. É um ponto de vista do poder burocrático que já funciona no "melhor dos mundos possíveis"? É um ponto de vista conservador, mas que, ao mesmo tempo, parece "justificado" pelo tribunal da História.

Karl Popper estaria de acordo com este preconceito contra as "grandes ideias" tendo como objecto a sociedade humana. O caso é que não devemos pensar a sociedade como uma máquina a precisar de conserto. Não temos ideia do que é, nem como funciona. Mas podemos, e de facto sempre o fizemos, considerar essa realidade como uma "caixa negra" (por exemplo, na agricultura, a terra é uma "caixa negra"; não foi preciso saber o que se passava no mundo subterrâneo para plantar as sementes) e medir a saliência de alguns parâmetros que fazem sentido dentro dos nossos "modelos", mais ou menos arbitrários. Popper, em face disso, aconselhava a estratégia reformista e pontual.

Tuzzi diz o mesmo. Não sabemos as consequências das  "grandes ideias", nem no que a sua maior ou menor adequação à realidade pode produzir na vida da maioria das pessoas. A menos que se defenda que mudar o mundo é mais importante do que compreender o que sai dessa mudança - atitude que nunca adoptaríamos na nossa vida individual -, é preciso dar razão ao nosso conselheiro. A analogia com os especuladores da Bolsa só é injusta porque esquece as "boas intenções" de alguns que dão tudo para "alavancar" (empreguemos aqui este termo da nova finança que vem tão a propósito) as oportunidades "revolucionárias" e apostar o seu e o futuro dos outros numa falsa grande ideia.

O crime aplicar-se-ia, então, aos outros, aos que conhecem por de mais as consequências inevitáveis, mas preferem ouvir o oráculo dos seus próprios interesses ou os do seu partido.

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