Brasão imperial da Áustria |
"(...) quem quer que hoje pretenda realizar grandes
ideias políticas deve ser um pouco especulador, ou um pouco criminoso!"
"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)
Palavras do conselheiro Tuzzi a Ulrich, o homem sem
qualidades. É um ponto de vista do poder burocrático que já funciona no
"melhor dos mundos possíveis"? É um ponto de vista conservador, mas que, ao mesmo tempo,
parece "justificado" pelo tribunal da História.
Karl Popper estaria de acordo com este preconceito contra
as "grandes ideias" tendo como objecto a sociedade humana. O caso é
que não devemos pensar a sociedade como uma máquina a precisar de conserto. Não
temos ideia do que é, nem como funciona. Mas podemos, e de facto sempre o
fizemos, considerar essa realidade como uma "caixa negra" (por exemplo, na agricultura, a terra é uma "caixa negra"; não foi preciso saber o que se passava no mundo subterrâneo para plantar as sementes) e medir a
saliência de alguns parâmetros que fazem sentido dentro dos nossos
"modelos", mais ou menos arbitrários. Popper, em face disso, aconselhava
a estratégia reformista e pontual.
Tuzzi diz o mesmo. Não sabemos as consequências das "grandes ideias", nem no que a sua
maior ou menor adequação à realidade pode produzir na vida da maioria das
pessoas. A menos que se defenda que mudar o mundo é mais importante do que
compreender o que sai dessa mudança - atitude que nunca adoptaríamos na nossa
vida individual -, é preciso dar razão ao nosso conselheiro. A analogia com os
especuladores da Bolsa só é injusta porque esquece as "boas
intenções" de alguns que dão tudo para "alavancar" (empreguemos
aqui este termo da nova finança que vem tão a propósito) as oportunidades
"revolucionárias" e apostar o seu e o futuro dos outros numa falsa
grande ideia.
O crime aplicar-se-ia, então, aos outros, aos que
conhecem por de mais as consequências inevitáveis, mas preferem ouvir o oráculo
dos seus próprios interesses ou os do seu partido.
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