"Alienar, é dar ou vender. Ora, um homem que se faz
escravo dum outro não se dá; ele vende-se pelo menos pela sua subsistência: mas
um povo por que se venderá? Muito longe de um rei fornecer aos seus súbditos a
sua subsistência, é só deles que ele tira a sua; e, segundo Rabelais, um rei
não vive de pouco. Os súbditos dão então a sua pessoa, na condição de se lhes
tirar também os seus bens? Eu não vejo com que é que eles possam ficar."
"Du Contrat Social" (Jean-Jacques Rousseau)
Esta é uma linguagem sem respeito, a não ser pela razão.
A Razão, no século XVIII, foi chamada a refundar todas as instituições, e a
cabeça do rei rolou para o cesto na consequência de um silogismo.
A Revolução francesa é a origem de todas as ideias de
tornar o nosso mundo racional. E mais do que isso, de o fazermos com carácter
de urgência, já que possuiríamos todos a
ideia do mundo tal como deveria ser e supostamente conheceríamos o nosso mundo.
Na verdade, logo que não exista força maior ou necessidade, todo o mal merece o
nome de injustiça. E é o próprio Rousseau que o afirma, a força ou a
necessidade não têm por que invocar o direito e todo o povo que obedece quando
não pode fazer outra coisa é prudente. Mas, pelo mesmo princípio, tem o direito
de se libertar do jugo, logo que o possa fazer.
Como não existe nenhum aparelho de medida da necessidade
do jugo, estão, criadas as condições para toda a necessidade, à partida, ser injusta.
Talvez por um
efeito de "deslumbramento" devido às conquistas da humanidade no
campo científico, toda a força se tornou superável e toda a necessidade uma
justificação ideológica.
Contudo, devia ser patente aos olhos de todos que não
conhecemos o nosso mundo (não chega dizer que é mais complexo do que aquilo que
poderíamos imaginar, porque, no fundo, existe uma impossibilidade, como a de
saltar sobre a nossa própria sombra) e os nossos modelos de sociedade têm
obrigatoriamente de falhar ainda mais do
que as simulações da economia. Mas os que jogam com estas ganham sempre, como
se viu e está a ver. Mas que seguro ou "bail-out" cobrirá o nosso
investimento nos novos avatares da Revolução francesa?
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