segunda-feira, 26 de março de 2012

O CONTRATO SOCIAL



"Alienar, é dar ou vender. Ora, um homem que se faz escravo dum outro não se dá; ele vende-se pelo menos pela sua subsistência: mas um povo por que se venderá? Muito longe de um rei fornecer aos seus súbditos a sua subsistência, é só deles que ele tira a sua; e, segundo Rabelais, um rei não vive de pouco. Os súbditos dão então a sua pessoa, na condição de se lhes tirar também os seus bens? Eu não vejo com que é que eles possam ficar."


"Du Contrat Social" (Jean-Jacques Rousseau)



Esta é uma linguagem sem respeito, a não ser pela razão. A Razão, no século XVIII, foi chamada a refundar todas as instituições, e a cabeça do rei rolou para o cesto na consequência de um silogismo.

A Revolução francesa é a origem de todas as ideias de tornar o nosso mundo racional. E mais do que isso, de o fazermos com carácter de urgência, já que possuiríamos todos  a ideia do mundo tal como deveria ser e supostamente conheceríamos o nosso mundo. Na verdade, logo que não exista força maior ou necessidade, todo o mal merece o nome de injustiça. E é o próprio Rousseau que o afirma, a força ou a necessidade não têm por que invocar o direito e todo o povo que obedece quando não pode fazer outra coisa é prudente. Mas, pelo mesmo princípio, tem o direito de se libertar do jugo, logo que o possa fazer.

Como não existe nenhum aparelho de medida da necessidade do jugo, estão, criadas as condições para toda a necessidade, à partida,  ser injusta.

Talvez por um efeito de "deslumbramento" devido às conquistas da humanidade no campo científico, toda a força se tornou superável e toda a necessidade uma justificação ideológica.

Contudo, devia ser patente aos olhos de todos que não conhecemos o nosso mundo (não chega dizer que é mais complexo do que aquilo que poderíamos imaginar, porque, no fundo, existe uma impossibilidade, como a de saltar sobre a nossa própria sombra) e os nossos modelos de sociedade têm obrigatoriamente de falhar  ainda mais do que as simulações da economia. Mas os que jogam com estas ganham sempre, como se viu e está a ver. Mas que seguro ou "bail-out" cobrirá o nosso investimento nos novos avatares da Revolução francesa?
 

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