sábado, 10 de março de 2012

"NUNCA MAIS"

(caloniedoesart.wordpress.com)


"A causa do estado terrível em que recentemente estive, durante vários dias, vem de que eu quis ver os Whistler para fazer por um morto aquilo que não se faria por vivos, pensando no 'nunca mais', no 'amai o que não vereis duas vezes' que me diziam essas belezas nómadas prontas para partir para Boston."


(carta de Proust a Robert de Montesquiou, citada in "Proust et la Peinture Italienne", de Eleonora Marangoni e Michel de Maule)



Proust, em matéria de pintura, viveu quase só de reproduções nas últimas décadas da sua vida. No dizer de Cocteau, não saía, de dia, mais do que duas vezes por ano. E, como o próprio confessa, foi ao Louvre três vezes em vinte anos. Não era a escrita que lhe ditava essa clausura, mas a asma. Da necessidade, fazendo virtude, concentrou-se no seu monumento e, tal como se diz que Miguel Ângelo fez quando acabou o seu Moisés, intimou-o a ser eterno pelo seu corpo exausto.

Os quadros do pintor americano passavam por Paris e, tal como aconteceu, no ano anterior à sua morte, com Vermeer (experiência que lhe inspirou a cena da morte de Bergotte), motivaram uma dessas raras expedições diurnas.

"Nunca mais" (nevermore) é o refrão do corvo de Edgar Allan Poe, um dos poetas preferidos da geração de Marcel. O sentimento de que a experiência não se poderia repetir ganhou, com a conotação, uma qualidade profética.

O escritor não dispunha do nosso museu virtual que faz da visita presencial a qualquer museu um hábito cansativo e sobrevalorizado. Isso não o impediu de desenvolver um pensamento original sobre a pintura de alguns mestres, através de cópias "sem aura".

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