(caloniedoesart.wordpress.com) |
"A causa do estado terrível em que recentemente
estive, durante vários dias, vem de que eu quis ver os Whistler para fazer por
um morto aquilo que não se faria por vivos, pensando no 'nunca mais', no 'amai
o que não vereis duas vezes' que me diziam essas belezas nómadas prontas para
partir para Boston."
(carta de Proust a Robert de Montesquiou, citada in
"Proust et la Peinture Italienne", de Eleonora Marangoni e Michel de
Maule)
Proust, em matéria de pintura, viveu quase só de
reproduções nas últimas décadas da sua vida. No dizer de Cocteau, não saía, de
dia, mais do que duas vezes por ano. E, como o próprio confessa, foi ao Louvre
três vezes em vinte anos. Não era a escrita que lhe ditava essa clausura, mas a
asma. Da necessidade, fazendo virtude, concentrou-se no seu monumento e, tal
como se diz que Miguel Ângelo fez quando acabou o seu Moisés, intimou-o a ser
eterno pelo seu corpo exausto.
Os quadros do pintor americano passavam por Paris e, tal
como aconteceu, no ano anterior à sua morte, com Vermeer (experiência que lhe
inspirou a cena da morte de Bergotte), motivaram uma dessas raras expedições
diurnas.
"Nunca mais" (nevermore) é o refrão do corvo de
Edgar Allan Poe, um dos poetas preferidos da geração de Marcel. O sentimento de
que a experiência não se poderia repetir ganhou, com a conotação, uma qualidade
profética.
O escritor não dispunha do nosso museu virtual que faz da
visita presencial a qualquer museu um hábito cansativo e sobrevalorizado. Isso
não o impediu de desenvolver um pensamento original sobre a pintura de alguns
mestres, através de cópias "sem aura".
0 comentários:
Enviar um comentário